sábado, 27 de dezembro de 2014

Laços.

Os laços que unem os seres humanos são muito mais sutis e misterioso do que se parece. Estava hoje andando sem destino e resolvi sentar em uma praça para descansar. Poucos instantes depois passa uma senhora muito desesperada atrás do neto. Ela me era totalmente desconhecida. Não iria mudar nada na minha vida se eu achasse ou não a criança. Poderia ter me negado a ajudar, mas me senti impelido a fazê-lo.  Acho que esse meu lado mãe (Oxum, Iansã, Iemanjá...) grita muito forte às vezes... Em resumo da ópera, eu corri os quatro cantos da cidade atrás do menino. . Achamos. A senhora ficou muito grata por isso e até me rezou (em nome de Nossa Senhora das Graças), me senti agradecido e estranho. Estranho e mais humano. Eu não sei se aquelas pessoas irão lembrar de mim, mas posso dizer que elas deixaram marcas na minha alma.
Vivendo e evoluindo...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Dois pra lá e dois pra cá

Meu coração bate solitário e entristecido.
É tum dum tum. Dum tum tum.
Dois pra lá, dois pra cá do eu sozinho.
Parece até um xote - só que quem dança e quem conduz é o mesmo.
Oh dança triste...
Dois pra lá e dois pra cá do eu sozinho.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

(Im)Perfeição

"VOCÊ NÃO SABE FAZER NADA"
"VOCÊ TÁ AQUI DE FAVOR"
"POR QUE VC NÃO É COMO ELX? P*RR# DE MENINO DRAMÁTICO!"
"SEJA HOMEM, ENGULA ESSE CHORO"
"EU NÃO QUERO VER NOTA NENHUMA VERMELHA TÁ OUVINDO?"
"CABEÇÃO! HAHAA"
"TU É VIADO NÃO É?"
"E BALÉ É COISA DE HOMEM?"
"VOU TE DAR UMA SURRA PRA VER SE VOCÊ VIRA HOMEM"
"FAÇA O QUE DÁ DINHEIRO, DEPOIS VOCÊ FAZ O QUE VOCÊ QUISER"
"NÃO TE QUERO MAIS NA MINHA CASA"

...
Uma vida inteira de cobranças e críticas. Nenhuma delas construtivas, apenas depreciativas mesmo. Ninguém nunca soube reconhecer nada que fazia.
É um choque reconhecer-se imperfeito depois de uma vida toda dedicada a atingir uma perfeição... Metas e parâmetros. Fio da navalha. Quando mais ninguém tinha para lhe cobrar, resolveu cobrar a si mesmo. "Eu tenho que ser o melhor". Melhor de quê? Melhor pra quem? Não aprendeu na sua vida a viver devotado a si. Foi sempre ao outro. Por um lado, desenvolveu empatia e altruísmo, por outro sufocou seu brilho e se deixou viver nas sombras dos outros.
Um espelho rachado. Será possível se achar? Se encontrar? Em meio a tanta sombra, é possível ainda haver luz?

Pergunta

Acordar ou continuar submerso nesse mar de torpor e covardia?

Void.

Sucessão de tapa buracos para um vazio que nunca consegue ser preenchido.
E assim eu vou vivendo.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Mini-drops: reflexivo

O amor é um sentimento tão profundo e complexo. Se divide em tantas vertentes e mantem sua essência: o querer bem, sentir feliz pela felicidade alheia e outros desdobramentos do querer bem...
Por que é também tão egoísta? Principalmente quando se trata de amor carnal. Queremos a pessoa somente para nós, conosco e da gente. E eu digo isso sem pestanejar: o amor é egoísta.
Avançamos em novas configurações de relacionamentos carnais e maneiras de se relacionar, mas duvido que, por mais mente aberta que a pessoa seja, ninguém sinta, no fundo, sente aquele sentimento que estraga tudo: o ciúme. Quem não sente ciúme não ama. Seja por sua mãe, pai, irmão, namoradx(s), amigx(s)... isso é tão triste.
Penso que não sei amar e talvez minha missão nessa vida seja essa: entender o amor; pois somente pelo amor se evolui. É um trabalho doloroso. Muitas vezes sinto vontade de desistir e essa é uma ideia tentadora...
Vontade de abraçar o infinito :(

sábado, 20 de dezembro de 2014

Rafael.










Tem pessoas que entram na vida da gente e vão embora. Tem outras que ficam. Tem outras que vão e querem voltar. E tem outras que deveriam ter ido, mas insistem em ficar. Você é do quarto tipo rsrs
Muitas coisas aconteceram desde que eu te conheci. Coisas que fizeram ambos evoluírem - creio que aprendi muita coisa com você e tenho certeza de que ensinei muito, mesmo você nunca admitindo isso. E por tudo de bom e ruim, sinto-me feliz por ter te conhecido. Esse menino (fingindo ser) tímido e risonho ocupou bastante lugar no meu coração.
Bom coração, complexo por vezes, solitário, companheiro, precisa desenvolver o cuidado com as pessoas ao redor, inteligente, generoso... Qualidades (e defeitos) que eu admiro e aprendi a gostar em você. 
Esse é o aniversário de número 2 que eu passo ao "seu lado" Dois anos... engraçado como o tempo passa rápido e que bom que é assim.  
Desejo-te paz, felicidades, realizações e amor. Espero ter saúde para estar presente no de número 3 e 4 e 5 e 6... Agradeço ao Universo por ter te conhecido e todo esse processo até aqui. Viemos juntos  por essa estrada. Como você mesmo disse no post de aniversário para mim: "acredito na força que nos mantém próximos e ela quer dizer algo" . Sinto que há ainda mais coisa para vivermos, de uma maneira ou de outra, de um jeito ou de outros, quero ter saúde para saber o que vem depois. 
27 beijos (Ia terminar com um "eu te amo" mas acho que é te dar ousadia demais HAHAHAHAHA).

Parabéns,

Uigue.

P.S: Pra terminar, te dou de presente uma música. Singela e com um simbolismo muito especial.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

apois



"Não procure pelo amor......procure pela verdade. Quando você encontrar a verdade haverá muito amor lá. Se você for a procura de amor, você pode distrair-se. Deixe o amor encontrar você."

Sabedoria e Natureza.

Itajuípe - Bahia



No nosso dia-a-dia, esquecemos que somos partes de um sistema; um ecossistema - algo vivo e que nos rodeia. No seu egoísmo, o ser humano agride aquilo que nos serve de lar, suporte e fonte de vida: a Terra.
Nesses últimos dias, a região do Litoral Sul tem sido "castigada" pelas chuvas - muitos alagamentos, famílias desabrigadas, casas destruídas... E eu vos pergunto: é culpa de quem?
De Deus? Das pessoas que moravam em local irregular? Das autoridades que não se preveniram, já que é um fato muito comum, ocorrer enchentes nessa época? Da humanidade como um todo?
Não quero ser palmatória do mundo; jamais. E também, acho cansativo ficar apontando culpados. E nem mesmo pensem que sou insensível ao sofrimento das famílias que perderam seus pertences. Mas o que eu trago aqui é a reflexão. A natureza nos avisa a todo momento a sua situação; dialoga. Por que então não prestamos atenção? Por que as autoridades das cidades atingidas não tiraram essas pessoas das zonas de risco ANTES? Por que não fizeram obras mais bem planejadas dos pavimentos? Por que não lembraram que tem responsabilidade com aquelas pessoas ali? Por que que essas pessoas não reivindicaram seus direitos? Por que não perceberam que é errado jogar dejetos no rio?
Sabe, é tudo muito complexo e contraditório. Tenho apenas a dizer que: todos nós fomos avisados e esse é o momento que a natureza rompe. Espero que fique a lição.
Aos desabrigados, espero em Deus, que haja misericórdia e justiça com vocês. Que os Orisà e Elohims se apiedem de vocês e acalme a Mãe Natureza.

Namastê.
Ipiaú - Bahia

from yesterday.

Tive um sonho.
Sonhei que era menino de novo. Menino pequeno e inocente, acuado do mundo. Medroso, curioso. Vontade de ir - vontade de ficar. Esse menino me olhava com curiosidade. Sim, eu estava lá olhando pro menino que também era eu. Só lembro que senti muito ternura ao ver tal garoto.
Ele pegou na minha mão e disse coisas que não consigo lembrar no momento, mas me pareceu muito preocupado para uma criança tão nova.
Acordei com uma sensação estranha. Um sensação de que aquilo não havia sido somente um sonho.
Fiquei o sentimento que, na verdade, esse sonho foi nada mais que minha criança interna gritando por ajuda e atenção.



Do passado, está vindo!
Do passado, o medo!
Do passado, ele o chama!
Mas ele não quer ler a mensagem aqui
Do passado(..)
Ele não quer ler a mensagem aqui!

Clandestinxs.


Nova colaboradora do blog: Amanda Sartório! Uma das mais queridas amigas e também uma das mais antigas. Capricorniana babadeira,uma fofa, amante de Bukowski e uma entendedora da vida. Bem vinda! 

kill.



Venha me destruir
Me enterre, me enterre
Eu terminei com você.


Dilúvio

Dilúvio






há três dias
sete horas
nove minutos
e onze segundos


minhas heterôminas
estão em assembleia
pauta única:
o que ocorrer


nada será deliberado
admiro a organização
de Pessoa.


Daniela Galdino

terça-feira, 9 de dezembro de 2014



A gente costuma a se agarrar às coisas que, no fundo, sempre soubemos que nunca foram nossas.

Mini-drops: Só pode ser sacanagem da vida.

Tava vendo as postagens e textos de pessoas dizendo sobre como foi o ano delas de 2014 e seus desejos para 2015.
To dando graças a Deus que esse ano tá acabando. Só serviu pra trazer sofrimento.
A gente até tenta ser otimista, mas tem horas que não dá...



som & fúria

Ela devia morrer um dia. 

Haveria um tempo para essa palavra. 
Amanhã... e amanhã... e amanhã... 
Deslizam nesse pobre desenrolar
de dia a dia
até a última sílaba do registro dos tempos
e todos os nossos ontens iluminaram para os tolos 
o caminho até o pó da morte.
Apaga-te... apaga-te breve vela!
A vida nada mais é que uma sombra que anda...
um pobre ator que se pavoneia e se agita durante sua hora no palco e depois não é mais ouvido.
É uma estória contada por um idiota
cheia de som e fúria que nada significa. 
Nada!
- William Shakespeare

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Flores.



Outro jovem se suicidou na universidade onde eu estudo. O segundo desse ano e creio que o segundo de mais alguns que virão...
Não ignoro a dor das pessoas que estão sofrendo com a perda dele e até me sensibilizo. Mas isso me parece tão egoísta no fim das contas. Por que ele deveria continuar a viver se dentro dele, ele sentia que não deveria? Quem somos nós para impor a vida a alguém? Será que não foi melhor que ele tem terminado sua própria agonia do que viver como um morto-vivo? Não conhecia o rapaz, mas, de repente, me sinto extremamente íntimo dele. A morte tem dessas coisas, né? Apesar de não saber o motivo que o levou a se matar, eu me reconheci na sua dor. No ato extremo de chegar ao extremo. 
Isso me levou a refletir sobre outra coisa também: a gente se acostuma a render homenagens apenas quando perdemos as pessoas. 
Estranho isso, não? 
São tantos os apelos silenciosos  que as pessoas dão todos os dias e ninguém percebe? Por que então somente dar rosas depois que o corpo já não tem mais vida? Por que não se preocupar, dizer um "te amo", um abraço quem sabe, quando o corpo ainda tem vida? 
Eu posso está parecendo um tanto frio nesse caso e não quero que assim pareça. Só quero deixar aqui a reflexão: como estamos cuidando de quem amamos? 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Suicídio, Liberdade e Durkheim

"Acho muito injusto as pessoas não terem o direito de tirarem a própria vida"

Ouvi essa frase de uma amiga minha. Refleti sobre ela durante um bom tempo - não que seja esse meu pensamento (embora já tenha me ocorrido e ocorre com frequência tal coisa e já tentei algumas vezes). Fiquei pensando como que é extremamente injusto que nossa sociedade nos imponha (ainda que de maneira indireta) o ato de viver. Me peguei no "se": Se eu não quiser mais viver? Se eu tiver porque viver? E quem são vocês para me dizem que devo continuar vivo sendo que não me é mais interessante estar vivo? Não há sentido que se defenda a todo custo a liberdade sem que seja dada também essa liberdade. Essa imposição é uma violência à subjetividade dos indivíduos. Mais uma violência dentre outras...Durkheim tem um trabalho sobre o suicídio como fato social - esse suicídio que não é mais uma subjetividade mas também uma interferência na realidade de outrem. Ele também observava os suicídios em série, como muito se acontece nas sociedades. Para Durkheim, a causa primordial dos suicídios estaria na necessidade da liberdade face à falência das crenças tradicionais; perda da eficiência das ideias e sentimentos tradicionais irrefletidos para dirigir a conduta, sem um novo sistema de crença comumNo âmbito das pós-modernidade, vivemos um período de desreferencialização do real e dessubstancialização do sujeito. Crise de valores e mudanças. Bom e ruim. Nada. Ao mesmo tempo que se avança na tecnologia, se retrocede na valorização e no respeito (alteridade) ao outro. Até que ponto esse progresso se torna ruim? Não quero parecer conservador nem nada do tipo (até porque nem congrego com ideias retrógradas), mas estamos claramente em tempos de crise. E o que vamos fazer sobre isso? Talvez nos matarmos. É uma possibilidade.
Espero que quando eu o fizer (o que não é uma possibilidade tão impossível assim para mim; não é tão impossível para ninguém) não me julguem. Ou pelo menos tentem me entender e não me odeiem. 

Se te Queres Matar

Se te queres matar, por que não te queres matar? 
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida, 
Se ousasse matar-me, também me mataria... 
Ah, se ousares, ousa! 
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas 
A que chamamos o mundo? 
A cinematografia das horas representadas 
Por atores de convenções e poses determinadas, 
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím? 
De que te serve o teu mundo interior que desconheces? 
Talvez, matando-te, o conheças finalmente... 
Talvez, acabando, comeces... 
E, de qualquer forma, se te cansa seres, 
Ah, cansa-te nobremente, 
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira, 
Não saúdes como eu a morte em literatura! 

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente! 
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém... 
Sem ti correrá tudo sem ti. 
Talvez seja pior para outros existires que matares-te... 
Talvez peses mais durando, que deixando de durar... 

A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado 
De que te chorem? 
Descansa: pouco te chorarão... 
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco, 
Quando não são de coisas nossas, 
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte, 
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros... 

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda 
Do mistério e da falta da tua vida falada... 
Depois o horror do caixão visível e material, 
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali. 
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas, 
Lamentando a pena de teres morrido, 
E tu mera causa ocasional daquela carpidação, 
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas... 
Muito mais morto aqui que calculas, 
Mesmo que estejas muito mais vivo além... 
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova, 
E depois o princípio da morte da tua memória. 
Há primeiro em todos um alívio 
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido... 
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente, 
E a vida de todos os dias retoma o seu dia... 

Depois, lentamente esqueceste. 
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente: 
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste. 
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada. 
Duas vezes no ano pensam em ti. 
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram, 
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti. 

Encara-te a frio, e encara a frio o que somos... 
Se queres matar-te, mata-te... 
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ... 
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida? 

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera 
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor? 

Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida? 
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem. 
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma? 

És importante para ti, porque é a ti que te sentes. 
És tudo para ti, porque para ti és o universo, 
E o próprio universo e os outros 
Satélites da tua subjetividade objetiva. 
És importante para ti porque só tu és importante para ti. 
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim? 

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido? 
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces, 
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial? 

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida? 
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente, 
Torna-te parte carnal da terra e das coisas! 
Dispersa-te, sistema físico-químico 
De células noturnamente conscientes 
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos, 
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências, 
Pela relva e a erva da proliferação dos seres, 
Pela névoa atômica das coisas, 
Pelas paredes turbihonantes 
Do vácuo dinâmico do mundo... 


Álvaro de Campos, in "Poemas" 

Heterónimo de Fernando Pessoa


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Vovó :'D

Como é que faz pra gente se acostumar com a morte? três anos que minha avó se foi e o simples fato de eu lembrar dela me faz chorar igual uma criança. :'(

Saudades do  teu encanto, do teu dengo... Oh, Vovó, por que a vida tinha que me tirar de ti tão logo? Dos únicos tesouros que eu tenho, tu foi o mais precioso e mais dolorido de ter perdido. Tanto que eu preciso da senhora aqui, da tua paciência e calma... da tua luz. Minha vida ficou tão triste sem a senhora. Ah, a saudade...
"O apego não quer ir embora... diacho, ele tem que querer"

De onde a senhora tiver, meu amor, me conforta e me guia.


"O fardo pesado que levas
Desagua na força que tens
Teu lar é no reino divino
Limpinho cheirando a alecrim"

wilson


*graciosamente roubado do meu amigo Wilson* 







"
A minha misandria me afastou
da possibilidade de transição
de gênero por todos esses anos.

Nada é certo ainda. Venho conversando com minha mãe sobre a possibilidade de transição há um bom tempo. No começo, ela negou veementemente a possibilidade, e disse que eu estava "confusa devido a uma insatisfação pessoal", mas que isso nada tinha a ver com transexualidade. Eu concordei. Mas não é a primeira vez que eu concordo com explicações convexas sobre minha identidade de gênero. Então eu resolvi fazer uma recapitulação de tudo.

Eu nunca fui super dyke. Na verdade, acho isso feio em mim. Mas também nunca fui nem um pouco "feminina". Minha própria mãe diz que, assim que aprendi a andar, ela olhava pra mim e pensava "É um menino todo...". E desde então as explicações apaziguadoras foram sempre presentes.

Começou com genética e fisiotipo. "Muitas mulheres são machonas, e isso não as faz lésbicas" (na época ainda não tínhamos consciência a respeito da transexualidade). "A família do seu pai tem esse jeitão 'jocoso', é genético". Os esforços de contrapartidas também não eram poucos: "Você pode tentar pelo menos 'se arrumar' mais". Depois, na adolescência, veio a sexualidade (paralela a um reforço do "jeito masculino", re-reforçado por uma indumentária andrógina). Minha mãe tentava, mais uma vez, ajudar: "Olha, se você gosta de meninas, lembre-se que lésbicas gostam também de meninas. Nenhuma vai se interessar por você se você parecer um menino". Mais recentemente, quando finalmente demonstrei interesse pela temática transgênero, minha mãe rebateu: "Você está insatisfeita com seu corpo, e está levando isso para o âmbito errado. Se você 'se cuidasse' (emagrecesse, malhasse), não sentiria isso, pois teria autoestima elevada".

Minha mãe sempre quis ajudar. Nada disso ela fazia por mal. Pelo contrário: dentro do pouco conhecimento que ela tinha a respeito, tentava me ajudar a sair das crises. E eu sempre dei ouvidos por não conhecer outras alternativas. Lutei boa parte da minha juventude contra minha "falta de jeito para a feminilidade", alternando entre fases de esforço para parecer "bonita" (leia-se: feminina) e fases, bem mais longas, de conformismo com minha falta de afinidade com esse mundo.

Lembro que desde pequena eu queria ser menino. Simples assim. Queria andar sem camisa. Não queria vestidos. Mais velho, a ideia de engravidar passou a me causar repulsa e pânico. Menstruação passou a ser uma tortura devastadora. Além disso, minha sensação ao vestir roupas femininas sempre foi a mesma: travestimento. No espelho, parecia bonito, mas no corpo me incomodava, causava estranhamento. Pior: ser reconhecido por isso me deprimia. As pessoas achavam bonito, diziam que eu devia me vestir assim sempre, e isso só me causava mais repulsa. Já quando eu visto roupas masculinas, é o oposto: me sinto bem. Me dá segurança. Mas quando olho no espelho... a imagem está completamente desconexa. Vejo uma dyke visualmente desagradável.

Um tempo atrás, eu havia "decidido" que eu era uma pessoa "nogender". Queria construir, a partir de então, um guarda-roupas andrógino, que me deixasse confortável em ambos os patamares. Passei a me vestir de uma maneira slim e flat, com camisetas de manga comprida de malha fina, calças jeans fit e meus clássicos converses neutros. Mas sabe quando a coisa ainda assim não lhe agrada?

Não sou uma pessoa expansivamente masculina nem feminina, de modo geral. Sou uma pessoa polida, neutra (ou pelo menos tento), e por isso talvez as pessoas não me vejam como um machão eminente (e realmente não sou); mas tampouco me vêem como uma menininha. Mas eu nunca havia pensado em disassociar "indumentária", "performance" e "corpo". Então um amigo trans me fez uma pergunta crucial: "Você está de bem com o seu corpo, tem vergonha dele?". Na mesma hora eu respondi "Não, eu sou de boa". Quando eu respondi isso, levei em consideração a experiência de outros transsexuais que não conseguiam sequer fazer sexo porque não conseguiam expor seus corpos. Eu consigo. Fico sem roupas na frente dos outros, deixo que me toquem. Mas esqueci de levam em consideração o que eu sinto. Foi então que passei a observar. Sim, eu deixo que me toquem, porque acho importante, MAS NÃO GOSTO. Não gosto que me olhem, não gosto de ter meu corpo reconhecido como sexualmente feminino, não gosto de "ser passiva". E tudo isso eu sempre ignorei sob a névoa da "baixa autoestima".

Então, essa semana, depois de muito pensar no que "não sou" e "não gosto", passei a fazer um exercício que nunca fiz antes: E SE? E se eu tivesse um corpo masculino? E se eu fosse reconhecido como homem, visualmente e socialmente? Como eu me sentiria? Me arrependo por nunca ter feito esse teste antes. Na verdade, a minha extrema misandria me afastou da possibilidade de transição de gênero por todos esses anos. Nunca estive satisfeito como mulher, mas sempre me causou repulsa a figura masculina socialmente vigente. Foi necessário que eu conhecesse homens maravilhosos - feministas, polissexuais, transgêneros - para que eu pudesse finalmente reconhecer que é possível sim ser um homem não-opressor, que contribui para a visibilidade das minorias e que não reproduz as atitudes do patriarcado e do machismo.

Sinceramente? Eu não deixo de considerar que minha mãe possa estar certa - que tudo isso não passe de baixa autoestima mal direcionada. Mas quando penso nisso, sinto muita frustração. De qualquer forma, tenho um longo caminho de autodescoberta pela frente. Não sou o clássico caso de transhomem que viveu em depressão boa parte da vida por não se sentir adequado e sempre teve convicção de que estava no corpo errado. Pra mim, tudo sempre foi meio anestesiado, desleixado, passivo e paliativo. Nunca me forcei a pensar muito a respeito simplesmente por achar que tudo isso era um processo complicado e sofrido demais pra eu ter que passar. Minha cabeça pessimista sempre levou em consideração as dificuldades que viriam com enfrentamento familiar e social, as rotinas médicas, as cirurgias desagradáveis. Mas a partir de hoje, meu exercício diário será apenas: e se? Vamos ver até onde minha mente vai.

P.S.: Para todos os efeitos, estou iniciando um processo de androginização do corpo, com emagrecimento (perda de "curvas") através de alguns esportes e regulação alimentar. E seguirei de boa em busca de algum autoconhecimento.  

"

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Beauvoir

Estive lendo sobre as Cartas de Simone Beauvoir a Sartre. Foram muitas as emoções que compartilhei com ela - angústias, pensamento e... solidão. Engraçado porque ela, uma mulher tão dona de si, empoderada e uma filósofa de pensamentos fantásticos sobre a condição humana era também, igualmente e obviamente, muito humana. E só. A relação estabelecida por ela e Sartre de amor, que hoje chamaríamos de "Amor Livre", era fonte de sua satifasção e ao mesmo tempo suas angústias. Um amor necessário e contengencial. Um pacto de afetividade que passou por diversas transformações e durou toda uma vida; do mais tórrido dos romances até a mais singela das amizades (que mesmo não se tocando mais, ainda se consideravam parceiros amorosos - o mais legal dessa história toda). Peguei-me pensando em quão efêmero é isso tudo. O quão frágil é a linha da vida e principalmente das relações. É tudo muito complexo e simples... Simplesmente é. 
"VONTADE DE ABRAÇAR O INFINITO" (Otto)

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Quero morrer num dia breve, quero morrer num dia azul.



Não diga que estamos morrendo
Hoje não
Pois tenho essa chaga comendo a razão

Um velho amarelo
Com três guerras no peito
Mirando o parabelo diz assim:
Vai
Menina dos meus olhos
Penetre entre os olhos
Não há piedade
É só o fim
Vai!

Quero morrer num dia breve
Quero morrer num dia azul
Quero morrer na América do Sul

- Jussara Marçal 

+: https://www.youtube.com/watch?v=pEtzUtNNtzg

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

The Heart Wants What It Wants

Então, cá estou eu sofrendo com música da Selena Gomez.
Sim. Selena Gomez.
Mas assim: muito sofrida e bem produzida essa música. A cabeçuda tá amadurecendo o som. Tão amadurecida quanto uma cantora pop pode ser rs

Mas pra quem era feiticeira da Disney...



Enjoy.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Isso é pra viver momentos únicos. (Otto)


"Isso é pra morrer
6 minutos
Instantes acabam a eternidade
Isso é pra viver
Momentos únicos
Bem junto na cama de um quarto de hotel"


Até pra morrer, você precisa existir. 

Concerto Para Corpo e Alma, Rubem Alves










Quem sou eu?
Sei que eu sou muitos. Quem me ensinou isso foi um Demônio velho, o mesmo que ensinou psicologia a Jesus. Quando Jesus lhe perguntou “Qual é o teu nome?”, ele respondeu, numa mistura de verdade e gozação: “Meu nome é Legião porque somos.” Coisa maluca: o “eu”, singular na gramática, é plural na psicologia.
Eu sou muitos. Tem-se a impressão de que se trata da mesma pessoa porque o corpo é o mesmo. De fato o corpo é o mesmo. Mas os “eus” que moram nele são muitos.
Sabemos que são muitos por causa da música que cada um toca. A letra não importa. Pode até ser que a letra seja a mesma. O que faz a diferença é a música. Cada “eu” toca uma música diferente: oboé, violino, tímpano, prato, trombone. Juntos poderiam forma uma orquestra. Não formam. Cada “eu” toca o que lhe dá na telha. Como no filme Ensaio de Orquestra. Esqueci-me do nome do diretor: terá sido Fellini? Merece ser visto.
Por vezes os “eus” se odeiam. Muitos suicídios poderiam ser explicados como assassinatos: um “eu” não gosta da música do outro e o mata. Foi o caso de um meu primo. Quando tínhamos sete anos de idade e brincávamos de soldadinhos de chumbo, ele já estava fazendo um dicionário comparativo de quatro línguas: português, inglês, francês e alemão. Quando tirava 98 na prova ele batia com a mão na testa e dizia, arrasado: “Fracassei”. O “eu” que batia na testa era o “eu” que não suportava não ser perfeito. O “eu” que levava o tapa na testa era o eu que não havia conseguido tirar 100 na prova. Um dia o primeiro “eu” se cansou de dar tapas na testa do segundo “eu”. Adotou uma medida definitiva. Obrigou-o a lançar-se pela janela do 17° andar.
O português correto diz: “Eu sou”. Sujeito singular; verbo no singular. Mas quem aprendeu com Sócrates, quem se conhece a si mesmo, sabe que a alma não coincide com a gramática. A alma diz: “Eu somos”. E diz bem. Pergunto-me: “Qual dos muitos ‘eus’ eu sou?”
Albert Camus declara, no seu livro O homem em revolta, que o homem é o único ser que se recusa a ser o que ele é. Essa afirmação encontra uma ilustração perfeita num incidente banal, descrito por Barthes no seu livro A câmara clara.
A partir do momento em que me sinto olhado pela objetiva da câmara fotográfica, tudo muda: ponho-me a “posar”, fabrico-me instantaneamente um outro corpo, metamorfoseando-me antecipadamente em imagem.
Olho para a foto. Sofro. O fotógrafo me pegou distraído. Não saí bem. Não me reconheço naquela imagem. Sou muito mais bonito. Sofro mais ainda quando os amigos confirmam: “Como você saiu bem!” O que eles disseram é que sou daquele jeito mesmo. Não posso reclamar do fotógrafo. Reclamo do meu próprio corpo. Recuso-me a ser daquele jeito. É preciso ficar atento. Que não me fotografem desprevenido. Se me perceber sendo fotografado, farei pose. A pose é o sutil movimento que faço com o corpo no intuito de fazê-lo coincidir com a escorregadia imagem que amo e que me escapa. A imagem que amo está fora do corpo. Recuso-me a ser a minha imagem desprevenida. É preciso o movimento da pose para coincidir com ela. Quero ser uma imagem bela.
O mito de Narciso conta a verdade sobre os homens. Narciso aceitou morrer para não se separar da bela imagem sua. Aquele que, como Narciso, vive a coincidência da imagem real com a imagem amada não precisa fazer pose. Está pronto para morrer. A morte eternaliza a imagem.
Dizem os religiosos que a existência humana se justifica moralmente. Deus deseja que sejamos bons. Discordo. A existência humana se justifica esteticamente. Somos destinados à beleza. Deus, Criador, buscou em primeiro lugar a beleza. O Paraíso é a consumação da beleza. Deus olhava para o jardim e se alegrava: era belo! No Paraíso não havia ética ou moral. Só havia estética. Os santos que a Igreja canonizou por causa da sua bondade eram movidos pelo desejo de que, por sua bondade, Deus os achasse belos. A beleza gera a bondade. Quando nos sentimos feios somos possuídos pela inveja e por desejos de vingança. Invejosos e vingadores são pessoas que sofrem por se sentirem feias.
Beleza não é coisa física. Não pode ser fotografada. É a música que sai do corpo. Nisso somos iguais aos poemas. Um poema, segundo Fernando Pessoa, são palavras por cujos interstícios se ouve uma melodia tão bela que faz chorar. A beleza do poema não se encontra naquilo que ele é mas, precisamente, naquilo que ele não é: o não-dito onde a música nasce.
De todos os “eus”, qual deles eu sou? Eu sou o rosto belo. É esse que eu amo – precisamente o que escorrega e tento capturá-lo na pose! Porque esse é o “eu” que eu amo, esse é o “eu” que o meu amor elege como meu verdadeiro “eu”. Os outros “eus” são intrusos, demônios que me habitam e que também dizem “eu” E ainda há quem duvide da existência dos demônios! Como duvidar? Se eles moram em mim, se apossam do meu corpo e me fazem feio – mau! Se, nos momentos em que se apossam do meu rosto, eu visse minha imagem refletida num espelho, talvez morresse de horror ou quebrasse o espelho.
(...)
Brigas de casais são exercícios de memória. Dizem que estão brigando por isso ou por aquilo. Mentira. Brigam sempre pelos rastos. Invocam os rastos, aquilo que fui ontem para destruir o belo rosto que amo. Não adianta que hoje eu seja uma ave. “Você me diz que é uma ave? Mas esses rastos me dizem que ontem você foi um macaco… Sua pose não me engana…”
Perdoar é esquecer. Deus é esquecimento. Quando ele perdoa os rastos desaparecem. Perdoar é apagar da memória o rasto/rosto deformado de ontem.
Aprecio a tua presença só com os olhos.
Vale mais a pena ver uma coisa sempre pela primeira vez que conhecê-la,
Porque conhecer é como nunca ter visto pela primeira vez,
E nunca ter visto pela primeira vez é só ter ouvido contar.
“Te conheço…” – diz um para o outro. “Minha memória diz quem tu és. Te conheço – nunca te verei pela primeira vez. Teu rosto, eu o conheço como a soma dos teus rastos…” Aqui termina uma estória de amor porque o amor só sobrevive onde há o perdão do esquecimento.
Somos Narciso. Estamos à procura de olhos nos quais nossa imagem bela apareça refletida. Queremos ser belos. Se formos belos, seremos bons.
Concerto Para Corpo e Alma, Rubem Alves

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O amor e o medo são pontas de facas.


O que dirá o mundo sobre as cidades?
Eu até estarei, reconheço a cidade
Em cada rua uma dor
Em cada dor, desabafo
Em cada corpo que eu acho eu trafego comigo
Eu lhe peço um abrigo
Eu divido contigo minha angústia e o meu pão
Eu divido contigo minha angústia e o meu pão
Buraco negro, elevadores, ela não sabe
Não há mais vagas
Olha as raízes dos postes de luz
E a concretagem das novas colunas
Becos e praças são feitos para as desgraças
O amor e o medo são pontas de facas
Mas não espere, não, pegue na contramão
E vai juntando as vidas perdidas
Mas não demore, não, pegue na contramão
E toque as filhas perdidas, perdidas
As filhas, as filhas
Onde começa, ela não sabe
O sol da laje, lembro do mar
Levantamento das quadras armadas
Quero você para sempre esta noite
Becos e praças são feitos para as desgraças
O amor e o medo são pontas de facas

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

estar sozinho


quando você pensa em quantas vezes
tudo dá errado
você começa a olhar para as paredes
e permanece lá dentro
porque as ruas são o
mesmo filme antigo
e todos os heróis acabam como
o velho herói do filme:
bunda gorda, cara gorda e o cérebro
de um lagarto.

não é de admirar que
um homem sábio irá
escalar uma montanha de 10.000 pés
e sentar-se lá esperando
e vivendo de baga de arbusto
em vez de apostar em duas covinhas dos joelhos
que certamente não vão durar a vida inteira
e 2 em cada 3 vezes
não sobreviverá por uma noite.
montanhas são difíceis de escalar.
as paredes são suas amigas.
conheça suas paredes.
o que eles nos deram lá fora
é algo que mesmo as crianças
se cansaram.
Permaneça com suas paredes.
elas são o amor mais verdadeiro.
construa onde ninguém constrói.
é o último caminho que resta.




You Get So Alone At Times That It Just Makes Sense, Bukowski

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Terapia (Ou Aprendendo a Saltar Muros)

Engraçado como psicólogo é bicho místico... Tava refletindo aqui com meus botões depois da última sessão que eu fiz essa quinta-feira passada.
Ah sim, eu tô frequentando psicólogo. Alguns traumas e dramas, por menores que pareçam, podem desestabilizar uma pessoa (como me desestabilizou).

Mas como eu dizia, o psicólogo traz esse mistério em si. Se for psicanalista então... Se senta, te cumprimenta, oferece água, sorri. Um sorriso que não diz nem sim nem não. Um sorriso que parece conhecer todos os mistérios da alma, pronto para desnudar os meus.
E a Gabriela tem conseguido, viu.
Gabriela é o nome da psicóloga, muito boa ela.

Muros, é disso que se trata.
São eles que eu tenho que pular - tanto os externos quanto os internos.
Voa, passarinho, voa pra longe desse sofrimento.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Entre meus inimigos, um beija-flor.


Pra que mentir
Fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou

Pra que usar de tanta educação
Pra destilar terceiras intenções
Desperdiçando o meu mel
Devagarzinho, flor em flor
Entre os meus inimigos, beija-flor

Eu protegi teu nome por amor
Em um codinome, Beija-flor
Não responda nunca, meu amor (nunca)
Pra qualquer um na rua, Beija-flor

Que só eu que podia
Dentro da tua orelha fria
Dizer segredos de liquidificador

Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor.

- Agenor Miranda (Cazuza)




terça-feira, 5 de agosto de 2014

A espera

A espera
Hoje pela manhã observava uma senhora que já tinha visto outrora. Talvez eu nunca tivesse enxergado-a de fato, apenas visto. Toda maltrapilha e rodeada de lixo e coisas sem qualquer valor e uma trouxa. Ela senta todos os dias em frente à Universidade na qual eu estudo e observa os carros passarem. Tal atitude sempre me despertara curiosidade e tal curiosidade só aumentou com o fato de que ela tem casa própria e marido, filhos e uma vida relativamente estável, mas ainda sim, ela senta todos os dias para observar os carros. Peguei-me pensando no que poderia estar esperando essa moça. Que sonhos traz em sua trouxa suja e cheia de trapos? O que motiva essa mulher a sair de sua casa todos os dias para observar algo ou alguém que nunca chega? Será que toda a "felicidade" que advém de uma casa própria e uma vida relativamente estável não são capazes de ao menos fazê-la conformada com sua vida?
Ela pode sofrer de uma esquizofrenia paranoide ou algo assim, mas a julgar por suas feições não parece ser o tipo de pessoa que sofra de alguma debilidade mental.
Engraçado que essa cena me levou a refletir sobre o quê que eu estaria esperando da vida. Engraçado porque eu não sabia a resposta. Engraçado que tudo pelo que lutamos para construir durante toda a vida para construir não tem qualquer sentindo se analisarmos a fundo. 
O que é que se pode esperar da vida?
Talvez a resposta venha de um desses carros.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Sobre o Pedro


Graciosamente roubado do blog da miga (Thasio).
Inclusive: post de boas vindas da miga.




esses dias estava olhando a foto do pedro. e toda vez que as vejo eu sinto uma nostalgia engraçada sobre minha sexualidade.
não. eu nunca fiquei com o pedro. sim, eu já quis (antes de conversar com ele durante alguns momentos), porém nunca dei um passo decisivo sobre. eu tenho uma amiga que diz para nunca desfazer um interesse platônico, porque as expectativas podem ser destruídas. e bom, foi o que aconteceu (desculpa, pedro).

mas o motivo d'eu estar falando do pedro hoje, é eu ter percebido que a maioria dos garotos gays, que recém descobrem que preferem beijar meninos, criam um cara ideal. nem sempre sobre o primeiro cara que se beija, mas principalmente, sobre aquele que se desejaria beijar.

e eu nunca tinha reparado sobre o que poderia me influenciar sobre esse ideal. poderia descrever o pedro aqui, porém não. mas acredito que a maioria de vocês acharia ele bonito, e é exatamente isso que me intriga. porque a gente vive criando parceiros ideais para relações ideais? achei complexo e resolvi devanear sobre escrevendo algumas palavras. bom, não é meu intuito apresentar uma resposta (risos). mas vou deixar uma musiquinha no fim pra deixar texto mais avulso ainda.

beijcxs.