quarta-feira, 18 de junho de 2014

cabelo ruim sim, me respeite



Hoje, dia 18 de junho de 2014, fui vítima do preconceito racial. Uma realidade tão distante para mim, garoto tecnicamente "pardo" e de classe média... não deveria sofrer isso. Mas sofri. Embora não tenha me causado danos psicológicos grandes ou físicos (apenas o polegar machucado) marcantes, sofri um golpe significativo em minha autoestima. E por um brincadeira. É.
Começou assim: Uma pessoa caucasiana, de família relativamente de boa condição, vivendo sua zona de conforto, resolve que simplesmente lhe foi dado o direito de ser fashionista e hair stylist da humanidade e então tem o direito de ser julgador da aparência de toda e qualquer pessoa. E me escolheu para testar suas habilidades.
"Tá na hora de cortar o cabelo. Você tem que perceber que seu cabelo é ruim"
Uma brincadeira. Uma brincadeira que mascarou uma atitude racista. Talvez um racismo inconsciente, nunca vou saber.
O que leva o ser humano a sair de seu habitat natural para dizer a outro o que ela deve ou não deve fazer, embasando seu argumento em um discurso fisiologizante e racismo, impondo um padrão etnocêntrico do que é um cabelo bom e um cabelo ruim, amparado, supostamente, por uma intimidade que ele julgou ter e que lhe permitia invadir meu espaço pessoal desse jeito.
Minha única reação - graças à intensidade de minhas emoções - foi agredi-lo fisicamente (lhe dei um apertão no mamilo, foi involuntário ou talvez meu orixá dando a resposta por mim rs) e ele retribuiu segurando meu dedo e acidentalmente (talvez) o entortou, perguntando "há necessidade disso? por causa de uma brincadeira?". Não respondi.Deixei que meu desprezo falasse por mim. Tenho um problema grande relacionado ao controle fino das minhas emoções; elas são tão intensas que eu não consigo pensar direito diante de um sentimento como a raiva. Ele saiu.
Foi um choque no momento. Um misto de raiva e outro sentimento. Engraçado. Não era a primeira vez que eu ouvia isso. Até mesmo da minha própria mãe, que é negra, eu já ouvi isso (e não posso julgá-la, pois ela não tem o mesmo empoderamento que eu). Mas de alguma forma, esse babaca conseguiu me atingir.
Refleti sobre o fato e quanto mais pensava, mais raiva tinha. E me percebi olhando de maneira estranha para o meu cabelo. Um sentimento quase que estranhamento. Até aquele momento, eu estava muito bem com os meus ~cachinhos~, o traço de minha ancestralidade, a morada de meus Protetores, o sinal de pertencimento da realeza africana (como diz minha amiga Mara). De repente, eu me sentia como que obrigado a me enquadrar ao padrão que o meu opressor me impôs. Acho que descobri na pele que a tal "democracia racial" é realmente um mito. O quão importante são as politicas afirmativas e de reparação de divida histórica. Mas graças a minha mãe Iansã, eu sou uma pessoa de temperamento MUITO forte. E precisa de muito pra mim oprimir.
Ainda que tenha havido o choque inicial, não vou deixar me abater por isso.Ainda somos somos oprimidos em senzalas ideológicas por uma lógica que coloca os oprimidos como seus próprios captores. E isso me deu mais vontade política para enfrentar essa tida "supremacia branca".
Sim, meus caros, estamos em guerra.


Pois bem, Sr. D. Não vou cortar meu cabelo, não. Meu cabelo ruim é minha arma e ato de rebeldia. Prefiro minhas molinhas a ao seu cabelo liso ensebado. Eu prefiro a minha pele negra, marcado de sol, do que sua tez insossa e sem cor.
Meu cabelo ruim é afirmação de identidade quanto negro. É um ato político. E nos meus padrões estéticos, estou muito bem, obrigado. Não preciso seguir nenhum padrão vigente, nem nenhum manual. Sou livre. E o dono da minha vida sou eu e não você. Até onde me consta meu cabelo ruim só diz respeito a mim e não a você e se te incomoda, sinto muito, mas só cabe a mim decidir o que fazer com ele.
Espero muito que esse seu preconceito seja algo inconsciente e que você esteja reproduzindo de forma "inocente". Espero do fundo do meu coração, pelo carinho que tenho a você. Espero.

Meu cabelo é bonito. Feio é o seu preconceito.

Inclusive, seguem  os links de textos para que, talvez, você consiga a salvação: http://observatoriodefavelas.org.br/noticias-analises/para-alem-dos-fios/
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-546X2000000200003&lng=pt&nrm=iso&...

2 comentários:

  1. Meu amigo! Fico impressionado como cabelos tem importancia! Importancia para os materialistas, que somente olham por fora (superficie) e NĀO por dentro. Quando eu (branco) era pequeno, jovem sempre tinha a obrigaçāo de curtar meus cabelos, pq se nāo viraria umnvagabundo, ladrāo. No pensamento dos meus pais e pode ser da sociedade. Pois minha māe me mandou para o cabelereiro e ligou para dizer quanto tanto ele deveria curtar do meu querido BEM. Me machucou bastante, nāo doeu nos cabelos, doeu no coraçāo. A sociedade, formada mais pela classe media, somente olha para as coisas superficiais, como cabelo, roupa, carro e NĀO chega nas coisas mais importantes: o espirito! Nāo fique triste por causa da ignorancia do ser humano. Esta evoluindo (ainda). Fique feliz, como eu, de respeitar meu ego, meus cabelos, minha cor de pele e meus pensamentos. Hoje tenho cabelos compridos e com muito orgulho. Abraço!

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